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Em PE, lado pop de Luiz Gonzaga é exibido na mostra ‘Baixio dos Doidos’

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“A formação de Luiz Gonzaga é pop”, disse certa vez o cantor Caetano Veloso. A declaração, que pode soar estranha para alguns ouvidos, encontra sua representação visual, sonora e sensorial na mostra “Baixio dos Doidos”, que faz sua primeira ocupação na Vila do Forró, em Caruaru, Agreste pernambucano, a partir desta sexta-feira (15).

De acordo com a curadora e idealizadora do projeto, Lina Rosa, a ideia é mesmo provocar o público maior, acordá-lo para esse lado do Rei do Baião. A ligação de Lina com o projeto é permeada por memórias e sentimentos que a acompanharam por toda a vida: “Para mim, Luiz Gonzaga sempre fez parte da infância. Sempre foi muito divertido ouvir, porque tem umas letras surreais, como ‘Siri jogando bola’, e aquilo para uma criança era incrível. Eu o via como uma coisa muito próxima a mim, mesmo na adolescência”.

A curadora afirma que a pesquisa do projeto durou cerca de um ano, período em que ela testou sua hipótese sobre o lado universal de Gonzaga. O resultado são as obras expostas no dez contêineres que já estão montados na Vila do Forró. Dentro deles, a poesia se mostra multifacetada, com colaborações de músicos como Arnaldo Antunes, Otto, Jorge du Peixe e Rhaissa Bittar, além de nomes como Naná Vasconcelos e Dominguinhos.

Como não poderia deixar de ser, tratando-se de arte pop, o lado visual da exposição é extremamente forte. Seja na parte de fora dos contêineres, no sorriso multicolorido e explícito de Luiz Gonzaga; nas fotografias da “paraíba masculina” retratada por Helder Ferrer ou nas brincadeiras visuais e intervenções cenográficas, o visitante é absorvido pela viagem nas composições de Gonzagão.

Entre as músicas reinterpretadas na mostra, “Paraíba” traz a provocação de propor que os personagens sejam travestis. Em uma barbearia tradicional do interior nordestino, as moças são fotografadas por Ferrer, com maquiagens de cores fortes. A canção, interpretada por Otto, é intercalada por depoimentos dos travestis, falando sobre o quanto gostam das músicas de Gonzaga.

A mostra presta atenção também à biografia do Rei do Baião. Não só em seu nome, “Baixio dos Doidos”, que remete à terra natal do músico, Exu, mas também em partes da instalação. Quando o público chega à parte chamada “Resposta a Januário”, depara-se com vários tipos de sanfona e sua ligação histórica com Gonzaga. Enquanto aprecia o ensaio fotográfico das variações do instrumento, o público ouve o forró “Respeita Januário” em uma gravação exclusiva da mostra (veja no vídeo acima), com participação de seis sanfoneiros: Dominginhos, Renato Borghetti, Regis Gizavo (Madagascar) e Ricardo Loudou (Argentina).

Ao comentar a participação de Gizavo, Lina Rosa lembra que o baião surgiu de um ritmo africano: “Então a identificação desse acordelista com o ritmo é muito genuína. Tanto que no início o convidamos para tocar somente com a sanfona. Aí ele se empolgou e colocou a letra também, traduzida para o dialeto de Madagascar!”.

A exposição terá ainda adaptações das músicas “Xote das Meninas”, “ABC do Sertão”, “Siri jogando bola”, “Samarica Parteira”, “Asa Branca” e “A Morte do Vaqueiro”, que fecha o passeio pelo universo gonzagueano. Nessa instalação, que faz uma alusão à saudade que o próprio Gonzaga deixou, Dominguinhos canta à capela, enquanto o público caminha entre vários chocalhos de gato, presos a fio de couro trançados, como se fizessem parte de uma cortina.

Na saída, os visitantes passam por um ambiente interativo, apelidado de “Psiu”, em homenagem à canção “Sabiá”. Lá, o público é convidado a dar suas impressões imediatas sobre a exposição, e compartilhar sensações nas redes sociais.

Por enquanto, a mostra só acontece em Caruaru, até o dia 15 de julho, com visitações gratuitas das 16h às 22h. Mas Lina Rosa já deixou claro que o “Baixio dos Doidos” foi pensado para passear Brasil afora: “Só precisamos mesmo do patrocínio, mas ela merece ser levada a outros lugares”.

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