Quem é tímido sofre nas festas em que a dança a dois é um dos pontos altos, como o São João. Medo de levar um ‘fora’ no convite, não saber os passos e ter vergonha de aprender junto com outras pessoas são alguns dos problemas. Quer dizer, eram: uma escola de dança no Recife abriu uma turma específica para os mais acanhados.
Débora Moura dá aula de dança de salão há 15 anos e sempre notou que havia gente sem coragem para se matricular nas turmas por conta da timidez. Até que abriu o próprio espaço, há dois meses, e decidiu investir no filão. “Eles não conseguem se entrosar com facilidade por serem tímidos. Alguns não querem nem ser tocados. Conheço alguns que até viraram alcoólatras, pois bebiam para poder dançar”, disse.
Existem três tipos de aula: workshops, particulares e regulares. Atualmente, a escola tem alunos nas duas últimas modalidades. Todos eles embarcam no alto astral da professora para aprender forró. “Eu faço logo um tratamento de choque, para deixar todo mundo bem à vontade. O segredo é fazer com que se sintam em casa. Coloco os alunos até para dançar com a vassoura”, falou.
A representante comercial Andreza Rodrigues afirma o grau de timidez dela diminuiu após o início das aulas. “Agora está médio, porque fui me soltando aos poucos, quero colocar em prática o que estou aprendendo. E isso está refletindo não só na dança, mas na minha vida como um todo”, comentou. O analista em suporte Ilaércio Mafra lembrou que quando saía para a balada com amigos ficava “escanteado”, pois não tinha coragem de tirar pessoas desconhecidas para dançar. “Hoje, estou mais confiante, encaro o que vier”, brincou.
Um aluno que, por timidez, preferiu não ser identificado, falou que tinha vergonha de falar em público e abordar garotas nas festas. “Eu demorava a noite toda para chamar para dançar, até que elas iam embora. Então, soube dessa turma e me matriculei para perder esse medo da rejeição. Agora, estou mais confiante. Na última festa, dancei com o dobro de mulheres que meus amigos”, falou, todo orgulhoso.
Acompanhar o novo tempo
Débora conta que a turma para tímidos é apenas um exemplo de outras mais diferentes que a escola dela tem. Há aulas de dança para homossexuais e gordos, de sensualidade para mulheres, pole dance, entre outras. “Aqui envolve mais que timidez, mas o medo do preconceito dos outros alunos”, falou.
A professora conta que muitas escolas nas quais ensinou não recebiam bem as sugestões de novas turmas. “Minhas ideias eram tidas como piadas, mas essas escolas é que precisam se modernizar, abrir a cabeça para acompanhar seu tempo. No começo, acharam estranho, dizendo que estou perdendo o foco, mas hoje só recebo elogio”, comentou.