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A feira moderna de Elba Ramalho

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RIO – Tudo muda, menos a vanguarda. Aos 61 anos, Elba Ramalho sabe muito bem que a melhor forma de levar adiante a música nordestina — ou qualquer movimento artístico, aliás — é simplesmente sendo ela mesma, embaixadora que sempre foi das sanfonas, triângulos, zambumbas e guitarras de sua Paraíba natal e da região. Em “Vambora lá dançar”, a cantora, com a voz madura, sempre soando confortável, além da simpatia e do carisma de sempre, reúne compositores de diversas gerações (Chico César, Vander Lee, Herbert Azul, Dominguinhos, Fagner e os menos conhecidos Petrúcio Amorim, Cecéu e Antônio Barros) e entrega um disco equilibrado e agradável.

“Embolar na areia”, de Herbert Azul, abre o disco com um piano elétrico Rhodes fazendo as vezes da sanfona, bateria programada (ambos assinados por Zé Américo) e uma linha de guitarras que lembra Robertinho de Recife na banda de Fagner. O melhor é que nada soa forçado, é simplesmente MPB nordestina. A frase que dá nome ao disco está em “Frevo meio envergonhado”, de Monique Kessous, uma das melhores: uma batida arrastada, que remete a Alceu Valença, puxa o arrasta-pé, em uma letra inspirada que culmina no refrão: “Esse é o meu frevo/ Meu fogo/ Meu eterno carnaval/ Eu vou correndo pra não me atrasar/ Vambora lá dançar”. E tome guitarra, de Marcos Arcanjo.

As levadas dançantes chamam a atenção, em músicas como as arretadas “Não chora, não chora não”, de Petrúcio Amorim, e “Tu de lá, eu de cá”, de Antônio Barros e Cecéu, ambas levadas pela sanfona de Cezinha. Nas duas, Elba comanda o forró com a alegria de sempre, como se espera dela. Sempre competente, Cezinha brilha especialmente em “Na rede”, de Nando Cordel, mais um arrasta-pé clássico: “Nesse quebra-quebra, nesse esfrega-esfrega/ Coração fica pedindo pra se derreter”. Bom demais.

É claro que, embora seja difícil a competição com o trio sanfona-zambumba-triângulo, o lado romântico de Elba também dá as caras, e bem. Três regravações permitem à cantora levar o ouvinte de volta para o aconchego: o tristonho bate-coxa “Onde Deus possa me ouvir”, de Vander Lee, conhecido das gravações de Gal Costa, Leila Pinheiro e do próprio Lee; o clássico “Mucuripe”, de Fagner e Belchior; e a linda “Minha vida é te amar”, de Dominguinhos e Nando Cordel. A última, ponteada pela viola caipira de João Lira, sai na frente das outras duas (“Mucuripe”, principalmente, não perde em beleza, mas não se aproxima da original, na voz atormentada de Fagner), mas em todas ouve-se a Elba 2.0, uma voz consciente, arranjos de bom gosto e produção caprichada, sem excessos (assinada por Zé Américo Bastos e Cézar Thomáz). É tudo do que precisam o Nordeste e o Brasil.

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