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Um filme para o Rei do Baião

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Seria necessário outro século para celebrar a vasta e imponente obra de Gonzagão, o cantor de voz grave e sanfona afiada que, “viajando num pau-de-arara”, levou “xote, maracatu e baião” do Nordeste brasileiro para alegrar o povo do Sul — tudo dentro de um “matulão”. Com suas belas composições e gingado ímpar, Gonzaga reinou soberano a partir de meados do século passado. O ano de 2012, em que ele completaria 100 anos de vida, está fazendo jus a seu legado. Por todo o país, artistas têm subido ao palco para reverenciar seu cancioneiro maior. Dentre as homenagens, uma extrapola a seara musical e salta aos olhos de seus admiradores: uma cinebiografia — que além de investigar a trajetória do mito, narra o capítulo dos desencontros com seu filho Gonzaguinha.

As mesmas fitas cassetes que serviram de base para a jornalista Regina Echeverria escrever a biografia Gonzaguinha e Gonzagão — Uma história brasileira, despertaram no cineasta Breno Silveira o desejo de transformar a vida deles em filme, há 7 anos. No material, conseguido por intermédio da viúva de Gonzaguinha, Lelete, pelas pesquisadoras Maria Raquel e Márcia Braga, há 20 horas de entrevistas que o filho fez com o pai, entre 1979 e 1980, quando andaram juntos pelo país na turnê Vida de viajante.

“Ele faz um ajuste de contas do passado com o pai, pergunta sobre sua história e, assim, começa a entender a sua própria”, descreve o diretor. Gonzaga — De pai para filho, orçado em R$ 11 milhões, com roteiro de Patrícia Andrade e produzido pela Conspiração Filmes, já está todo rodado e estreia prevista para o fim de agosto. “O filme é caro pois é todo de época e viajamos bastante para fazê-lo”, explica.

Para Silveira, biografias, de uma forma geral, podem propiciar bons documentários. No caso da ficção, contudo, as histórias precisam de drama. E foi o que ele encontrou na relação entre os dois músicos, a partir das fitas. “É um percurso de encontros e desencontros. As fitas são muito emocionantes e no final há um perdão”, adianta. Mais do que apenas um livro ou um filme, as mil histórias do mestre poderiam render, na opinião de Silveira, uma minissérie com diversos capítulos. Mesmo com o roteiro pronto, não pararam de chegar histórias do Velho Lua para o diretor.

Após o sucesso de 2 Filhos De Francisco, Silveira acreditava que não iria mais se envolver com cinebiografias. “Queria filmes autorais, tinha várias histórias para contar”, aponta. “Em 2 filhos, contei a história dos filhos vista pelo pai. Agora, é a história do pai contada pelo filho — e com uma costura musical maravilhosa”, adianta. Uma das ideias é usar o áudio original das fitas em trechos da obra.

Com as filmagens pelos interiores do Nordeste, o diretor se impressionou com a vitalidade da música e a força de Luiz Gonzaga ainda hoje. “Gonzagão, para mim, é um de nossos maiores artistas populares, raiz de nossa cultura. Ele trouxe o Nordeste para dentro do país”, opina Silveira. “Sou um cara apaixonado por Brasil, e o filme é muito brasileiro”.

Em busca de Lua

Chambinho caracterizado como Gonzaga (Isabel Valiente/Divulgação)

Se Gonzagão foi um artista único, de carisma e talento arrasadores, encontrar alguém à sua altura para vivê-lo nas telas do cinema não foi tarefa fácil. O diretor testou muitos atores, mas não achou ninguém sequer parecido. “E ainda tinha que ter algum domínio da música”, analisa. A saída foi procurar diretamente na fonte. A produção do filme espalhou a busca por rádios e jornais no interior do Nordeste e chegou a 5 mil inscritos. Uma filtragem reduziu o número a 40.

Depois de testados por Silveira e sua equipe, 10 foram para o Rio de Janeiro. Dois meses de laboratório revelaram as melhores opções para o papel: Chambinho do Acordeon (que vive o rei entre 27 e 50 anos) e Adélio Lima (o Gonzagão mais velho). Lan Vieira interpreta o músico no final das adolescência e começo da vida adulta. “Não procuro atores famosos. A bilheteria dos meus filmes não tem a ver com isso”, comenta.

Ator Julio Andrade ficou idêntico a Gonzaguinha  (Isabel Valiente/Divulgação)

Para viver Gonzaguinha, o eleito foi Júlio Andrade. “Ficou praticamente igual. É um ator com um talento impressionante, com muito tempo de cinema. O público vai ficar espantado”, garante. “Ficou parecido no jeito, na arrogância, na magreza e na voz”. João Miguel, Zezé Motta, Nanda Costa e Silvia Buarque também aparecem.

Entrevista: Breno Silveira
“Achei inacreditável que essa história ainda não tivesse sido contada no cinema”

Em suas andanças pelo Nordeste brasileiro para as filmagens, o que você encontrou sobre Gonzagão?
A obra dele está muito presente no Nordeste, de uma forma absurda. Ele deixou de ser um artista para se tornar um mito. Está muito presente: nas músicas, no jeito de se vestir… Gonzagão não é um cara que passou, ele continua lá. A música dele é muito executada. Ele tinha algo de ingênuo, mas também a malandragem para conseguir sobreviver. Veio de um lugar complicado, de onde as pessoas saem. Foi desterrado do sertão por conta de um caso de amor.

Um boato sempre rondou a relação entre Gonzagão e Gonzaguinha: seria este realmente filho legítimo do Velho Lua? Você aborda esse tema no filme?
Essa é uma questão que, acredito, nunca vai ser revelada. Eles mesmo não quiseram descobrir, não sou eu que vou tentar. Mas o filme irá ajudar a esclarecer o porquê da dúvida e da difícil relação entre os dois. Em uma das fitas, Gonzagão fala: “Não interessa se você é meu filho ou não. Não interessa se meu sangue corre ou não nas suas veias”. Está gravado! Qual é a importância de ser ou não ser?

Gonzagão
Luiz Gonzaga do Nascimento é nome inventado, sugerido por um padre. O sobrenome não consta na certidão dos pais, seu Januário (cantado em versos célebres) e dona Ana. Nascido em 13 de dezembro de 1912 em Exu, no interior pernambucano, seu primeiro disco como cantor só veio aos 33 anos — mas já havia 24 anteriores em que mostrava os dotes como sanfoneiro. O Velho Lua, como também é conhecido, figura no rol dos artistas mais geniais e originais da música popular brasileira. Além disso, instituiu o gibão e o chapéu de couro à Lampião como trajes oficias dos músicos de sua região. Faleceu em 2 de agosto de 89.

Breno Silveira

Breno Silveira recebeu 6 calungas por À Beira do Caminho no Cine PE deste ano  (Daniela Nader/Divulgação)

O cineasta, nascido em Brasília, tem um excelente currículo. Em 2005, levou mais de 5 milhões de pessoas aos cinemas para assistir ao longa 2 filhos de Francisco, que narra a história da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano. Foi sua estreia na direção. Em 2007, outro sucesso: Era uma vez…, um Romeu e Julieta moderno com temáticas sociais. Seu último filme, À beira do caminho, levou cinco prêmios no Cine-PE deste ano, e ainda não foi lançado em circuito comercial.

Gonzaguinha
Luiz Gonzaga do Nascimento Junior (1945-1991), carioca, também enveredou pelos lados da música. Perdeu a mãe muito cedo — aos 2 anos — e foi criado no morro de São Carlos, no Rio de Janeiro, pelos padrinhos Dina (a da canção) e Xavier. Começa daí o distanciamento dele e Gonzagão, sempre rodando o país com seus shows, casado com outra mulher e muito ausente na infância do garoto, que só foi morar com o pai aos 16. Gonzaguinha é lembrado, sobretudo, por canções que se tornaram clássicos da MPB, como É, Comportamento geral, Começaria tudo outra vez, Explode coração e O que é o que é.

Assista ao vídeo em que Gonzagão e Gonzaguinha interpretam A vida do viajante, parceria do rei do baião com Hervé Cordovil.

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