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Filme sobre o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, abre o Festival do Rio e se torna esperança para volta por cima da bilheteria no cinema nacional:

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Aos olhos do mercado exibidor, que viu o cinema brasileiro de 2012 contabilizar um dos piores resultados de público de sua história recente, Gonzaga, de pai para filho, longa-metragem escolhido para abrir o Festival do Rio, nesta quinta-feira, é uma promessa de volta por cima para as bilheterias nacionais. Fareja-se no ar um perfume de 2 filhos de Francisco (2005), fenômeno de 5,3 milhões de ingressos vendidos, cujo realizador é o mesmo: o carioca Breno Silveira. Assim como fez na cinebiografia de Zezé Di Camargo & Luciano, Breno confiou as rédeas do filme à emoção. A diferença aqui é o tamanho da produção. Para os poucos espectadores que já viram, o périplo afetivo do cantor e compositor Gonzaguinha (1945-1991) para entender quem foi seu pai, Luiz Gonzaga (1912-1989), o Rei do Baião, é um filme de “proporções continentais”. Para quem fez o longa nascer trata-se de uma aventura de esforços épicos.

“Nada com Luiz Gonzaga é pequeno. Não havia um almoço de equipe sem ao menos 300 pessoas. Só vi coisa parecida em filmes estrangeiros que fotografei. Só o esboço do roteiro tinha pra lá de 200 páginas. No fim, eu me vi fazendo um filme com cinco montadores, para terminar no prazo e estrear antes do centenário de Gonzagão (12 de dezembro). E ainda estourei em R$ 2 milhões o orçamento, que ficou em R$ 12 milhões”, diz Silveira, que rodou o filme em nove semanas, em cem locações diferentes entre Rio e Nordeste.

Um dia após a cerimônia de abertura, no Odeon, para convidados, o Festival do Rio exibe o longa ao público no cine Roxy. É a chance de conferir por que o longa, rodado em 35mm, tornou-se o trabalho mais complexo da Conspiração Filmes, que operou em dupla com a D Mais Filmes. Foram ao todo dois mil figurantes e cem atores em papéis de destaque, sendo que Gonzagão, retratado em três épocas, foi revezado entre Land Vieira (dos 17 aos 23 anos), o sanfoneiro Nivaldo Expedito de Carvalho, o Chambinho do Acordeom (dos 27 aos 50), e Adélio Lima (aos 70).

“No dia em que anunciei nas rádios do Nordeste que estava à procura de candidatos para viver Gonzagão, mesmo sem experiência como ator, recebemos 5 mil inscrições”, conta Silveira, que entregou o papel de Gonzaguinha a Alison Santos (dos 10 aos 12 anos), Giancarlo Di Tommaso (17 aos 22) e Julio Andrade (35 aos 40), protagonista do cult Cão sem dono (2007).

“Emagreci oito quilos para o papel, numa preparação solitária, trabalhando com um diretor que me explicava cada sequência sempre emocionado”, diz Julio Andrade. “Quis viver sem estereótipo um cara que carrega a dor do mundo no olhar”.

Diretora-executiva da Conspiração, Eliana Soarez lembra que as filmagens impuseram desafios desde o início, pela opção de se reconstituir o Brasil dos anos 1920 aos 80, com fotografia de Adrian Teijido, de O palhaço.

“Começamos por Recife, registrando um show enorme no Marco Zero. Depois fomos para a Bahia, em Juazeiro e arredores, onde tínhamos sets em três lugares diferentes, todos de clima muito quente: Curaçá, Poço de Fora e Barro Vermelho. As locações ficavam a pelo menos uma hora e meia da nossa base. Os deslocamentos eram difíceis, e os celulares não pegavam bem”, lembra.

Ainda em cartaz com À beira do caminho, eleito melhor filme no Cine PE, em maio, Silveira levou sete anos para tirar do papel Gonzaga.

“Filmei e lancei “À beira do caminho” no meio do processo. No começo, havia questões entre os herdeiros de Gonzaga e as filhas do Gonzaguinha. Juntei as duas partes num jantar e saímos de lá com ambas unidas, após contar o que eu queria: narrar o processo de descoberta de um dos maiores ídolos populares deste país pelo filho”, diz Silveira, que prepara uma minissérie para a Rede Globo a partir do material bruto do filme (leia mais na coluna de Patricia Kogut).

Previsto para entrar em circuito no dia 26 de outubro, com 400 cópias, o longa nasceu de uma caixa de fitas cassete em que Gonzaguinha conversa com o pai. Elas foram entregues a Silveira por Marcia Braga, produtora, e Maria Rachel, que participa do roteiro, escrito por Patrícia Andrade (fiel parceira do cineasta) com colaboração de George Moura. O diretor também usa o livro Gonzaguinha e Gonzagão — Uma história brasileira, de Regina Echeverria.

“Fica claro naquelas gravações o quanto Gonzaguinha, criado no Morro de São Carlos pelos padrinhos Dina e Xavier (vividos por Silvia Buarque e Luciano Quirino), desconhecia seu pai, que morreria pouco tempo depois. Há trechos da conversa deles em que você chora. Gonzaguinha diz: “Tô chegando no sertão. Sertão que era do meu pai. Pai que eu não conheci direito.” Mas as falas de Gonzagão mostram o quanto ele admirava aquele garoto, de quem acabou se afastando após a morte da mulher, Odaléia (Nanda Costa)”, diz Silveira, que incorpora imagens de arquivo ao longa nos moldes do que fez em 2 filhos de Francisco.

Diante das frustrações com a venda de ingressos que o cinema brasileiro sofreu este ano, em que só E aí, comeu? passou a barreira de dois milhões de pagantes, Silveira sabe que a responsabilidade de Gonzaga, de pai para filho é alta. Mas seu maior compromisso não é com números.

“A questão de Gonzaga é que ele trata de um homem que uniu o país inteiro com sua música. Rodando o Brasil de cabo a rabo, sempre havia um lugar tocando Gonzagão. Ele é uma lenda do tamanho do Brasil”, diz o diretor. “A história dele e do filho é muito bonita. Meu compromisso foi tentar reproduzir essa beleza, com carinho”.

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